Quando entrei na faculdade de Jornalismo em 2015, minha primeira professora sentou na carteira e disse para olhar sempre as entrelinhas. Ir para além da notícia, entender que o propósito é comunicar o que, muitas vezes, a notícia tradicional não pauta. Buscar a verdade, e colocar amor.
Viver a notícia com ética. Entrar de cabeça nas coisas que nos propomos a noticiar.
E Glória Maria Matta da Silva viveu.
Queria lotar os passaportes de carimbos como ela lotou. Cobrir o que ela cobriu. Ter a mesma confiança e passar o mesmo respeito (com ela e com os outros) que ela passava. Glória me fez ver possibilidades de atuação na minha jornada, me fez buscar forças para seguir. É referência para milhares de brasileires, de mulheres, de jornalistas mulheres e, principalmente, para minhas colegas pretas de profissão.
Glória Maria deixa milhares de inspirações por aqui.
Com o Canto Baobá, me comunico com diverses jornalistas que acreditam e noticiam o Canto enquanto uma empresa ética, comprometida com a saúde mental, feita por e para a comunidade preta e lgbtqiapn+.
E nessa caminhada, vi e vejo profissionais incríveis, que fazem da notícia um lugar seguro, o que me dá muita esperança, principalmente nos veículos independentes, periféricos, pretos e jornalistas em formação.
Ainda é possível se orgulhar de sermos jornalistas. Nossas referências estão em nós.
A morte de Glória me abriu um vazio diferente. Era como se eu a conhecesse, como se estivesse no meu círculo de amigos. Ela deixa um legado gigante para toda a população brasileira de justiça, afeto, compromisso e luta contra o racismo.
Seu corpo e existência são políticos.
Que sua paixão por viver livre seja inspiração para todes nós. Fazer o que quer fazer, da forma com que pode fazer, da maneira mais verdadeira para ti possível. Viver o hoje, se preservar quanto necessário.
Glória Maria deixa um legado de aprendizado. Obrigada!
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