Para a psicologia, fetichização é a ação de reduzir a fetiche: de transformar algo ou alguém num objeto erotizado ou usado para saciar os desejos de alguém.
E não é de hoje que mulheres não brancas sentem-se objetificadas e fetichizadas dentro da sociedade, em específico, aqui no Brasil, onde os padrões de beleza - apesar da diversidade -, seguem os mesmos padrões reproduzidos principalmente por países europeus.
Estamos falando especificamente de mulheres pretas e amarelas, vítimas do imaginário ocidental, que tendem a “coisificar” nossos corpos usando de palavras como “ exóticas” para nos definir.
Essa fetichização faz com que nossas identidades individuais sejam completamente anuladas, onde o que importa é o “como a gente se parece” e não o “ como realmente somos”. Os estereótipos ajudam a reforçar esse processo de fetichização e nos colocam dentro dessas caixas de imaginários coletivos.
Tanto as mulheres pretas como as mulheres amarelas, sofrem com o reforço desses estereótipos através de propagandas, novelas, programas de televisão, cinema e redes sociais, onde buscam explorar ainda mais esse "lado exótico e quase místico" de nossos fenótipos e raça.
Existem diversos pontos de reflexão e de partida de violências. Para a mulher preta, é fruto do período escravocrata no Brasil, onde corpos pretos receberam características de sexualização exacerbadas.
A objetificação, nesse caso, que possuem raízes na violação sexual de corpos pretos durante a escravidão, traz consigo a desumanização desses corpos, transformando quase em um processo de animalização.
Esse processo também atinge mulheres indígenas, vítimas de violação de seus corpos durante muitos anos, desde a invasão ao país.
Já a mulher amarela, ou asiática, carrega estereótipos de submissão, portadoras de extrema feminilidade, inocência quase infantil, "bonecas exóticas" utilizadas para os bels prazeres. Vale lembrar que, na Ásia, milhares de mulheres tiveram seus corpos violados durante as guerras.
É importante salientar, que mesmo dentro desse sistema violento sobre os corpos em questão, há ainda um padrão de beleza desejado e idealizado nesse imaginário. Ou seja: mulheres não brancas ora são fetichizadas, ora são excluídas por não atenderem os padrões de sexualização desses imaginários construídos.
A conscientização do acontecimento dessa estrutura é extremamente importante, pois reforçam a existência dos racismos e a misoginia e reduzem essas mulheres a meros objetos a disposição da imaginação e do prazer de outrem, desqualificando suas personalidades, vivências, histórias e individualidades.
A partir disso, podemos pensar que ser fetichizada pode acarretar em vários problemas emocionais e de autoestima, além de sensação de não pertencimento, desvalidação nas relações amorosas e sexuais além de diversos outros sofrimentos psíquicos.
É preciso que esses estereótipos parem de ser reproduzidos e que mulheres não brancas tenham consciência de quem são e de como são vistas pela sociedade. Por isso é preciso que questionemos, entendamos que essa é mais uma das ramificações do racismo estrutural e possamos combater essa visão para, finalmente, termos nossos corpos livres de qualquer rótulo imposto.
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