A forma como lidamos com aquilo que nos faz sofrer diz muito sobre o destino que damos à nossa angústia. Em geral, buscamos maximizar aquilo que nos traz prazer e evitar vigorosamente qualquer angústia, qualquer conflito. Levado ao extremo, esse parece ser o movimento pelo qual nossa cultura da positividade tóxica se baseia: negar a todo custo a validade de qualquer sentimento tido como negativo. O problema é que o negativo também nos constitui enquanto sujeitos e somos aquilo que negamos tanto quanto o que admitimos em nós mesmos.
Não dar espaço para essa negatividade é negar uma fração de nós mesmos, criando uma panela de pressão com uma força que se soma a cada dia, sem nunca ter vazão. É, inconscientemente, matar pouco a pouco nossa individualidade, o que acaba por adquirir um caráter patológico, infantilizado e subdesenvolvido, de uma vida que não se realiza em si mesma.
Nesse encontro entre nosso melhor e nosso pior se baseia o trabalho analítico, num percurso de dar voz a nossas fantasias, nossas histórias, desatando nós num complexo emaranhado de questões e angústias. No fim, como nos diz Jung, qualquer árvore que queria tocar os céus precisa ter raízes tão profundas a ponto de tocar os infernos.
Por isso a terapia dói,
E por isso ela transforma.
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